domingo, 21 de novembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte II - O Fantasma

Antes de ler leia a postagem da semana anterior:


Mestre Bhava: Separados pela linguagem - Parte I - Introdução

Com aquela introdução da semana passada, expus os vários aspectos da mesma questão, e está claro que vou lhes levar, sem que vocês percebam, ao Tantra. Podem me acusar agora mesmo, antes de concordar comigo. O Mas,  “e olha aí a conjunção adversativa como introdução permanente a uma perspectiva de diferença conceitual”, como advertiu o meu amigo Roberto Melo, o Mas nos salva todo momento, de ser o outro, faz esta magia.

A coisa que some, merece ser burilada a exaustão e eu sou um teimoso compulsivo, que é a mesma coisa dita duas vezes. Infelizmente é longo o processo de aqui dissecar o “Mas” e o “O que”, a começar lá pela maldita campainha, que cortou o um entre dois corpos, o meu , o seu e o de todos - e o da mãe. Ali vimos que surge o desejo, desejo que surge como dor, sintoma como manifestação de uma intervenção, diferente de sinthome como a saudade de ser um novamente. O sintoma, a angústia e a inibição, este trio infernal. O sinthome de ser UM permite que a perda do Um gere um plano estrutural, e amarre para sempre , a mãe, a campainha e o sintoma. Amarre tudo como função de letra, grito, choro, e mais tarde - palavra.

A dor como sintoma inaugura o desejo como letra, o osso ióide que já fala e desliza sobre a garganta. Foi o terror do grito da morte de milhões que nos fez falar.

Milhões gritaram antes de você poder dizer bom dia, hoje!

Agora o leitor já a meio caminho de uma depressão induzida pela verdade dos fatos, pergunta: O Tantra não trata do gozo? Da felicidade? Para quê voltamos a nossa dor original?

E aí é que está a coisa toda, a felicidade é a mesma dor, o gozo é dor. O gozo é um investimento na mesma dor que separou, investimento libidinal lá na origem, tentativa de reparar aquilo lá. O mesmo Ding Dong da campainha.

Gozamos para voltar ao paraíso, ouvir de novo a maldita campainha!

E ela toca! Dez , cem, mil vezes e assim mesmo queremos ouvi-la!

Não planeje seu suicídio, ainda! Não tente outra vez! Pois antes do Nada da morte, a campainha toca, da mesma forma!

Não vá encontrar os peixes banana! Por que o ato repete a mesma campainha.

Isto está provado, pela matemática lacaniana, e no máximo, umas  dez ou vinte pessoas no planeta entenderam, e este que vos fala é um deles, humildemente.

Metade dos meus 10 leitores já clama pelo Soma. Queremos Soma! Queremos a felicidade artificial!

Eu peço que aguardem, pois ainda temos algo, podemos encontrar a felicidade no outro e o outro em nós. Há algo entre nós! E lhe digo mais, não é um novo universo de conceitos e que irá terminar na mesma campainha com um som diferente! Que em vez de Ding Dong faz Bzzzzzzzz.

Freud chamou o algo de inconsciente, e foi aí que tudo se perdeu! Outro som da mesma campainha.

Dalinianamente lhe convido a ser perverso, a ver a dor como gozo ou o gozo como a dor, depende se você é neurótico ou não!

Não sei se piorei ou melhorei para você, mas enfim, o que importa é lhe apresentar algo novo, que você, caro leitor terá que ouvir mil vezes antes de ver nisso alguma importância.

A Alma é um fantasma! Fantasma da dupla desejo-dor! A Alma é um fantasma, uma visão subjetiva de si mesmo! E por trás tem um observador passivo, que é tudo que ocorre e ao mesmo tempo não muda, é imutável. O nome dele, desta testemunha: Consciência.

O que este fantasma quer? O seu Sacrifício.

O que o desejo quer de mim? E ao mesmo tempo não sou nada sem isso. O que o “isso”, o “O que”, quer de mim?

Só sabemos quando desmontamos o fantasma a posteriori e aí sabemos que ele quer minha derrota, a minha perda!

Hoje é domingo, alguns amigos vem aqui na minha casa, portanto tenho que deixar a coisa assim:

Um significante representa um sujeito para outro significante  S¹ >$ >S², esta era a fórmula que definia tudo, segundo esta fórmula estávamos presos a uma cadeia de significantes, e o sujeito ($) tinha que representar seu eu, tipo novela de Goffman, para outro significante. O desejo é o efeito da divisão em partes, Kálas. O sujeito ($) não é senão o efeito da divisão, da linguagem, ele não existe antes. A cadeia de significantes seria o inconsciente.

Isto pressupõe a existência anterior de um sujeito, que nasce em um corpo e o anime pelos significantes da cadeia. É como um programa cósmico. Porém há aí um erro, não existe desejo do sujeito e sim sujeito do desejo, não há sujeito anterior algum. Então o Tantra nos diz que o Universo é uma teia pronta, uma Matriz, Máyá.

E com isto se explica o atamento do fantasma, o destino!

Perceberam que tudo ficou assim, sem solução? E aí é que o Tantra traz uma novidade, que vou introduzir, aqui. Sono, sonhos e Kundaliní, sim há um fenômeno reparador, que remove todos os dias o fantasma da cadeia de significantes.


Dormimos ? Sonhamos?


Então caros leitores há algo aí, algo Místico, sempre me arrependo de usar a palavra místico, é um saco onde cabe de tudo, sempre na falta do conceito, usam o místico como heurística, mas vejam que o místico aí é muito preciso! 





Segunda parte postada, 22 de Novembro




Peço paciência ao dizer que o que existe é um sujeito do desejo e não um desejo do sujeito. O desejo é que se assujeitou como tal, logo, a continuidade de Alma, do nosso fantasma camarada, é ser uma construção no tempo espaço, construção subjetiva de si mesmo. Veja que nosso sujeito, nossa Alma , já agora o nosso fantasma é representado como $, pois ele busca algo, um isso, busca ser algo, para alguém, e este alguém é em primeira instância ele mesmo!


Esta é a passagem do EU para o EU SOU, e daí para o EU SOU ISSO! de Shiva para Shakti e dai para Sadakhya, Assim surge quem se constrói subjetivamente com Ser. Se ficamos no EU e no EU SOU, temos o SER de fato, pois temos a exclusão de qualquer ISSO. O fantasma surge na criação com o ISSO, quando a realidade subjetiva se revela para si mesmo, EU SOU ISSO!


Nasce o fantasma aí, e ele é animado pela vida quando passa a uma quarta etapa, ISSO SOU EU!


EU


EU SOU

EU SOU ISSO(nascimento do fantasma)

ISSO SOU EU(atamento do fantasma)



No ISSO SOU EU surge o Ishwara, o ser que cria mundos, hábil na linguagem, pois se coloca como ser que é causa, mas na verdade,  é o fantasma falando.


Será que fui claro ao dizer que o fenômeno está entre nós, entre o EU SOU e o EU SOU ISSO?


Nesta altura o leitor estará já perdido, andamos muito rápido não foi? Fizemos muitas conexões, até chegar à prova cabal de que há algo entre o EU SOU e o resto. Eu chamei de Fantasma o Ser que vive após o EU SOU, e que vive do ISSO.

ISSO é o Objeto, ou o que ele representa como Desejo.

EU e SOU. O “EU SOU”, formam um lugar que falta o ISSO, formam uma estrutura, que ainda não se afirma, ainda não é um EU SOU EU (ISSO). Vejam que este segundo EU, (EU)  refiro-me assim a uma constituição do Moi (meu EU), porque é uma tentativa de elaboração de uma teoria que de conta do primeiro esboço de Eu que se constitui como ego ideal e o tronco das identificações secundarias, a sede do narcisismo.

É na passagem do EU SOU, para o EU SOU EU, que surge o Eu que é o MEU EU, aqui um ISSO, pois ele não é o EU, e sim o MEU EU, um ISSO, a sede do Fantasma, sua origem, digamos, Cósmica, Universal.

Então caro leitor o seu EU não é o EU em si, sacou? Nunca é. Jamais será! É um ISSO.

Você pode fazer Yoga, praticar budismo, conscienciologismo e o que quiser, mas jamais, nuca realizará seu EU, pois é um outro que se NÃO realiza, o Fantasma, o ISSO.

Há um impedimento, o SEU EU não pode ser o EU.

Então façamos agora um pacto, esqueçamos o EU original, jamais estaremos falando dele, ou sobre ele, ele é inexpugnável, inatingível! Ele é Eterno e imutável.

Assim chegamos a raiz do Tantra:

Shiva é o EU, e Shakti é o SOU. Por algum motivo este EU se manifestou, sua manifestação é a Shakti.

Eis aí a coisa, a ontologia perversa do Universo, mistério. A Shakti, manifesta o EU, mas ao manifestar para ele mesmo, EU SOU EU cria a condição para a criação, veja que não manifesta para ele mesmo, mas para algo, alguém parecido com ele, um espelho.

2 comentários:

  1. Ótima linguagem, ótima percepção, ja aguarado as próximas postagens.





    Roberta

    Abraços.

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  2. Interessante. Eu gostaria de saber sobre o fenomeno, mas se o senhor irá falar sobre isto, aguardo.



    Mateus

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