quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte V - O Tantra

Antes de ler leia a postagem anterior:



Assim eu creio que consegui conduzir você leitor até um ponto interessante, e que é o objeto da psicanálise e do Tantra – o Gozo do Real. E não me contenho em dizer, o Gozo Real, “a coisa toda boa” como dizia um discípulo meu.

Exatamente isto é a Biunivicidade, o Samádhi Hindu, o gozo sem objeto. O malandro Patãnjali já colocava as duas formas de gozo, um com objeto e outro sem o objeto. Mas o problema não é tão simples como nos insinua Patãnjali. Como gozar sem objeto? Alguns estudiosos do yoga, os teimosos em ver alguma coisa lá, dizem que é uma percepção especial, o tal gozo sem objeto.?????????

O Tantra não luta com o conceito, não rivaliza com a filosofia, pois nele o Gozo do sujeito com seu objeto é um gozo embrulhado com o real, mas não há nada de errado nisto, embrulhado ou não, é Gozo.

Não se preocupe caro leitor, ninguém está gozando errado, nem incompletamente, nem parcialmente, como se houvesse um Gozo Real, e um ilusório. Como se houvesse uma gestalt perfeita para ser encontrada por aí, e você não a encontrou!

Com isto entramos no assunto, na Biunivocidade, o gozo não encerra, mas recomeça, ele reinicia a Alma na cadeia significante da letra. Dá ao Jiva a sensação dele existir de fato como Consciência. E de fato, o gozo dele é o de atingir um metadesejo – o Gozo é a experiência em si.

Com objeto ou sem objeto o gozo(sic) é um desfazimento da letra, da nossa separação pela linguagem. Ilusão é buscar um Mais-gozar, um gozo além de si mesmo, como se o gozo da Alma não fosse espiritual.

Então não é gozo que pode ser colocado em categorias, com ou sem objeto, não. É o desejo, este sim, o desejo que faz o sujeito, é ele que pode ser categorizado. O objeto vem do desejo e não do Gozo.

E isto somente muda quando o Jiva, a Alma, coloca o desejo como uma experiência e não como conhecimento, quando a Alma coloca como uma experiência de si mesmo. Experiência esta que não é um ganho, mas uma expansão em direção a Consciência.

Resumindo o Jiva, o fantasma, a Alma,  é um experienciador da Consciência. Sem ele não há experiência alguma.

Nós como Almas estamos desempatado o jogo; e o EU, a Consciência, empata, ela sempre empata o jogo.

Desta forma é que nós podemos ser um Avatar da Consciência. O Jiva é a consciência e depois voltar a ser a Alma, e sobre esta viagem, é sobre isto que o Tantra nos fala. Eu, você, todos, podem, como Jiva, ser a Consciência no Gozo, mas antes do gozo, e depois dele não. Logo não há um objeto, o sujeito, o Jiva, ele é o Objeto da Consciência, este é o caso!

O Jiva quando sofre um gozo está junto da Consciência, naquele instante e depois volta para a linguagem, volta para seu lugar na cadeia significante.

Logo estar de posse de um corpo físico, de uma psique, para a Consciência, é estar experimentando ser daquele jeito específico. O que quero dizer é que o Gozo é uma ausência de significado para uma experiência, a ausência de linguagem!!

Assim posso começar a lhes dizer que não há transcendência alguma que não seja a da linguagem e que o Jiva é um ser da linguagem e em todos os momentos, e com isto, sou obrigado a lhes levar ao Tantra novamente. Que  momentos são estes?

Antes, quero lhes dizer da grandeza de um homem chamado Freud, ele foi o primeiro, a abordar onde o homem desfaz sua linguagem, ele foi o primeiro a conferir aos sonhos um status de uma outra vida da Alma, do Jiva.

O Jiva vive na vigília, no sono e nos sonhos, e vive vidas distintas!

A vigília, Jagrata, o estado de sonho Svapna, e o estado sem sonhos do sono,  Susupti.

Como a filosofia ocidental pôde ignorar os sonhos e o sono?

Na vigília e nos sonhos nós somos o desejo de sujeito e o sujeito de desejo, respectivamente. Nós invertemos a posição, ciceroneados pelo sono que faz a ponte entre um e o outro estado.

Sonhamos para poder dormir, e dormimos para poder sonhar.

Nos sonhos nós somos os senhores da mente, da situação, o desejo pode se transformar pela imaginação em várias formas, continuamos sendo o sujeito do desejo, o desejo se altera e nós continuamos nele. Na vigília temos o desejo do sujeito, o sujeito preso ao desejo, e aí é o sujeito que muda, para atender o desejo, e mudar, pela linguagem!

No sonho nós somos o mesmo sujeito, na vigília criamos a possibilidade do outro, trasnferimos, mudamos o sujeito e não o desejo!

Na vigília, nós temos o Signo, como a letra, ela manda no sujeito; já nos sonhos temos um sujeito em que o Signo escapa da ditadura da letra, não age mais pela letra, mas pela imagem em ação.

No sonho o sujeito do desejo é capaz de surfar pelo signos, rompendo com a linguagem, com a letra. Ele é o senhor, ele é o sujeito do desejo, ele assume o controle sobre o conceito. Cada signo sonhado revela um outro e um outro... que veste o mesmo desejo, veja que isto é fundamental neste estudo que lhes apresento, o desejo é o mesmo, mas sua roupa, é que é outra. Isto é o fetiche.

Nesta altura já podemos dizer que o Jiva vive três experiências distintas, a vigília, o sonho e o sono.

A vigília é um transe com o mesmo desejo, que faz com que o sujeito seja outro e outro, precisa se negar para pensar, transferir...; o sonho é um transe com o mesmo sujeito, em que o desejo é vestido de formas diferentes!

O sonho é uma experiência de ser a Consciência! É um gozo em que o sujeito testemunha, o único momento em que escapa da letra. Jiva Mukta, é a Alma liberta.

E aí o leitor pergunta: O que isto tem a ver com o Tantra?

A resposta é o fenômeno, ele alterna os dois estados, a vigília e o sonho, este é o significado do poder serpentino, que pode ir de um plano ao outro, da terra ao vazio e do vazio para a terra. Pode colocar o sujeito como produto ou causa. Pode colocar o sujeito junto (Samádhi) com a Consciência ou levá-lo ao extremo, separado pelo alfabeto.

Concluindo, já é tarde, não é o objeto que muda o gozo e sim o Lócus, o lugar, o lugar em que o Jiva está. Na posição de vigília ele não pode mudar o Signo, ele está preso a ditadura do significante, e tudo que ele pode conhecer é um outro lugar no mesmo sentido, sentido este dado pela linguagem. Como faço agora com você que lê.

Pode ser que você se anime por um ponto de vista novo, mas não se engane, qualquer lugar na cadeia significante é um lugar previsível, possível , não escapa do sentido.

E com isto eu creio ter lhe dado uma base para entrar no mundo no Tantra. Da imaginação produzida por um tipo de experiência muito especial, a capacidade de sair da vigília para estar junto da posição de Consciência e depois voltar ao mundo, renovado.




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