terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Separados pela Linguagem - Parte VI - Shiva, a Eudade

Antes de Ler, leia a Parte V




Se é o desejo que(m) faz o sujeito, é ele que pode ser categorizado. O objeto que vem do desejo é um sujeito, um Fantasma gozante, o Jiva. E, como veremos, é a sua posição o que marcará como, e por que este sujeito age.

A tese de que o sujeito seja uma Alma e que contenha nela uma essência, um núcleo espiritual, e em contraponto o desejo seja uma vontade, adquirida ou herdada, que lançaria este sujeito ou Alma em uma confusão existencial, bem esta tese cai completamente quando este sujeito , é ele mesmo o produto do desejo. Logo não existe objeto filosófico algum, que não seja o próprio sujeito como desejo, produzindo um objeto como se não fosse ele mesmo, o criador. Uma vez ultrapassada esta dificuldade inicial, em que o objeto representaria algo, que não fosse nem o desejo e nem o sujeito ou a Alma, podemos concluir que as relações e análises em que tomamos um objeto separado do sujeito, como um conhecimento, são alienantes.

A Alma é o fantasma em uma posição que nos engana ao produzir um discurso que não marca a sua posição exata. Assim não sabemos as causas e nem os motivos desta Alma buscar um gozo através do seu próprio discurso, uma vez que seu discurso não se sustenta na realidade, não dá conta dela.

É justamente esta incapacidade da Alma em ser a Consciência, que a coloca como um sujeito incapaz de assumir sua posição real, que não seja intermediada pela linguagem. Entretanto ao usar uma linguagem ela transfere seu si mesmo, como desejo para uma localização entre ela e os outros. Como todas as Almas agem pelo mesmo princípio, é este pacto mudo, sempre ausente, que ao mesmo tempo em que nos dá a possibilidade da comunicação entre nós, nos transfere a incapacidade de contradizer a nós mesmos.

Em linhas gerais todos nós nos beneficiamos do mesmo princípio: sermos intermediados pela linguagem como se fossemos nós a falar e pensar, e ao mesmo tempo ter que dar conta de uma relação com si mesmo, onde não há linguagem, onde o Signo não necessita de codificação. O Gozo como aproximação de si mesmo, mas intermediada por uma linguagem entre nós, nos aproxima da mesma Consciência, do outro, que é a mesma Consciência em nós, fechando um circuito com o si mesmo, através do outro. É gozo por que se deu através de um outro.



O Gozo é uma aproximação do Jiva,da Alma, da Consciência. Esta Consciência que é Perfeita, Benevolente, e aí introduzo para vocês um conceito novo, e que talvez você já tenha ouvido por aí, esta Consciência Benevolente, é chamada de Shiva, no Tantra.

Esta aproximação sempre se dá através do outro, pois não há como a Alma se relacionar com a Consciência que está junto a si, pois para isto a linguagem é insuficiente, o signo já faz isto diretamente entre a Alma e a Consciência. A estrutura do Gozo pede que se faça isto através de um outro, real ou imaginado. Mas é sempre um outro que outorga o encontro com o si mesmo.

           

Esta Eudade, Shiva, é o Grande Outro, designado por Lacan como o Outro. O Outro que é o mesmo nosso de todos nós.

A Consciência é uma Eudade, é o Eu, o mesmo Eu em todos nós, assim temos o outro e o Outro. O outro é a referência a outra pessoa, outra Alma, e o Outro, grafado com O maiúsculo é o Eu neste outro, o mesmo Eu em nós.

Shiva, a Consciência, é a Eudade, um eu que é perfeito para ele mesmo, uma eudade, a Eudade é a única entidade que não é fantasmática em todo o Universo.

A Eudade, Shiva para os Hindus, a Consciência, são o mesmo princípio. Princípio que não precisa se relacionar consigo mesmo, sendo a única coisa igual em todo o Universo, pois sendo a mesma coisa não precisa de si mesmo, e por isto é Eudade, Consciência ou Shiva.

Nós, como Fantasmas, precisamos ser para nós subjetivamente (para a Eudade) e precisamos ser para os outros objetivamente, vejam que nós como Jiva, como Alma, não podemos ser subjetivamente para o outro, se tentamos ser subjetivamente, seremos pelos meios objetivos, pela linguagem!

Nós fantasmas, nós Jivas, estamos separados pela linguagem!



Toda comunicação se dá por um código, código este aprendido pela cultura, e na relação com o outro utilizamos este código como linguagem. Na relação com si mesmo esta Alma precisa usar deste mesmo código, intermediado pela linguagem, como pensamento. Não podemos ser subjetivamente para o outro sem um código estabelecido, sem uma linguagem. Então toda relação é objetiva, mesmo que não pareça ser. Se este código foi aprendido e desenvolvido para dar conta de estarmos separados por uma linguagem, e esta separação é justamente a possibilidade de conhecer um aspecto de si mesmo, quero dizer, de conhecer a Eudade no outro, temos um cenário, que é biunívoco, é pelo outro que entramos em contato com a Eudade em nós. E naturalmente vem a questão se podemos ter este contato com a nossa Eudade pelo outro, porque não podemos ter diretamente em nós? A resposta é enigmática, nós estamos barrados, pois o código estabelecido foi para a relação entre nós, ela é cultural. A linguagem separa a mesma Eudade. Então na tentativa de uma relação subjetiva com a Eudade em si mesmo, a linguagem, o código estabelecido entre as Almas não serve.


A Eudade, Shiva, já é subjetivamente para ele, pois ele foi a Primeira Eudade, não havia outra, não havia para quem ser, isto é ontológico, não é milagre, é matemática. Só há uma Eudade, uma Consciência.

É debaixo deste fenômeno que nós estamos. A Consciência primeiramente foi subjetivamente para ela, se representou pela benevolência, logo, ela.... não é benevolente, ela foi, pois era para ser para ela mesmo!

Não havia separação, pois não havia outro.

A Eudade não precisa ser para ninguém mais, ela é a mesma coisa, é idêntica em todas as Almas, Não havendo nada além da mesma Eudade não existe nenhum conflito ou atração entre ela mesma, aí a benevolência é este estado mútuo, não existindo outro no Universo. Se imaginarmos uma Eudade que se divide em duas e depois em três etc, perdemos o processo, pois a primeira Eudade não necessita de dividir. Então ela não de dividiu, não vive no tempo/espaço.

O Tantra rejeita a metafísica e a criação, e adota o Emanacionismo a partir do Um, desta forma as práticas espirituais tem que levar em conta esta realidade e não outras vias de interpretação.

Shiva não é um Ser nem uma Entidade, é a Eudade que origina o Universo, é este mesmo Um que a todo momento se manifesta tanto para si mesmo como para os demais, subjetivamente e objetivamente, criando uma cadeia de eventos. Um que continua a ser bom para ele mesmo, e daí os desdobramentos lógicos e psicológicos desta Biunivocidade e suas várias possibilidades.

Este EU original, um princípio de Consciência, continua sendo UM, como subjetividade entre si mesmo, e como objetividade, entre as Almas. Logo não há uma produção de EUs iguais a partir do Primeiro Eu, o Eu, a Consciência é a mesma, sempre foi e sempre será a mesma. Assim o Eu de cada um de nós é o mesmo Eu original, como Principio de Consciência, portanto este emanacionismo é aparente, este EU não mudou e jamais mudará, pois é o mesmo, sempre, não havendo a necessidade de ser outro. Logo, este Eu está presente e ausente em todas as estruturas do universo, na matéria, como Unidade alheia ao espaço/tempo, portanto imutável.

Um átomo, uma partícula sub atômica, ou em uma galáxia, há o EU, cujo fundamento é a imutabilidade, mas em cujo campo as transformações são possíveis. Desta forma não existe uma evolução do EU, nem mesmo sua criação, ele não é um evento, é um Ser que é eterno, imutável. Nem mesmo de Deus podemos chamar a Consciência, pois um Deus cria, interage, e neste caso é sua presença como imutável, que produz a matéria e conseqüentemente a psique. Assim esta consciência, este EU já existia muito antes da matéria e da psique, existia e continuará existindo da mesma forma – imutável.

O que é isto? Com o que estamos lidando? De que é feito? São perguntas feitas pela razão que tenta entender este fenômeno chamado de Consciência. A matéria e seus fenômenos absurdos, e a psique como a construção de um si mesmo, que se nomeia, como ser e produz um conhecimento, tanto sobre a matéria como a física e sobre si mesmo como a psicanálise, são eventos secundários da Consciência. Hoje a física quântica mostra que a matéria não é um fenômeno isolado de nós, basta observarmos a matéria e ela reage a nossa observação produzindo outros eventos.

           

Eu posso ser bom para mim e ser mau para o outro,também posso ser mau para mim e bom para o outro, veja que ser "mau" não é ser mau, mas sim, não ter o mesmo julgamento. O outro é a introdução do terceiro e sobre isto que vou lhes falar.

Basicamente temos duas posições: Sou bom para mim e não uso da mesma medida com o outro, então sou “mau” para o outro, esta é a via perversa. A outra via é quando sou injusto, “mau” comigo, e bom para o outro, e assim sou neurótico. A diferença é lançada no outro ou ela é lançada em mim. Jamais na Eudade.

A realidade como ela se apresenta para nós nos deixa uma via dupla de interpretação tanto de si mesmo como do outro. A Alma faz o papel de ser alguém, produto de uma cultura e de um grupo social como a família. Mas na relação com o outro, se reproduz uma verdade Universal, biunívoca, em que aprendo ou ensino, ou em que sou neurótico, um aprendiz ou um mestre, um perverso. A Consciência, o EU, Shiva, é apenas uma presença, tudo que percebo é percebido pela Alma, pela ínfima parte que capturo da realidade, quando emano um saber ao outro e quando recebo o saber do outro. Tanto o saber da Alma como a matéria são lados da mesma coisa. Isto é a Biunivcidade, o Tan e o Tra. A expansão perversa e o retraimento neurótico.

Na posição Neurótica procuramos na Eudade do outro, um saber que complete a nossa incapacidade de ter acesso subjetivo a si mesmo, e na posição Perversa nós nos colocamos a serviço do Gozo da Eudade. 

Dois neuróticos, se colocariam os dois na posição de buscar na Eudade do outro a posição negada em si mesmos, e dois perversos os dois se colocariam a serviço do gozo da Eudade do outro.

As relações entre as Almas, são as relações da alteridade do saber, a intermediação produzida pela presença da mesma Consciência nas duas posições. Como fica barrado o nosso acesso a “nossa” Consciência, ao nosso EU, pois este acesso se daria por um código de linguagem, por um código da cultura, pactuado entre as Almas; mesmo que este acesso seja feito sempre de forma subjetiva, esta forma subjetiva não sacia a Alma, pois não produz um saber que possa ser levado ao outro. A solução é a co-participação, um saber que se completa no outro como a posição perversa e o saber que se completa em nós como a posição neurótica.

Este é o dilema Universal, e o amor é a alteridade das posições do par.

Portanto agora nós podemos voltar ao Gozo, que não é ser a Eudade, mas ser o mestre da diferença (e quem é o mestre da diferença? O Jiva, o fantasma). No Gozo parece que ganhamos algo, mas na verdade o que ganhamos foi o poder de ser para um outro, o Gozo goza na posição do outro, ele é a prova irrefutável da existência da Eudade.

Esta biunivocidade explica o comportamento cruzado na busca da Eudade, através do outro. Logo, existem dois meios de gozo. Pela Eudade no outro, e pela Eudade em mim mesmo. O saber ou o conhecimento é buscado no outro ou o saber é levado ao outro.

O gozo atende a posição criada por mim de biunívoca, pois se faz pelas duas vias, a da Consciência ou a Eudade no outro e pela Consciência ou Eudade em mim mesmo, como a  via Perversa e Neurótica. Na cultura oriental Shiva ensina a Shakti e Shiva aprende com a Shakti, confirmando a minha contextualização.

O conhecimento é a conexão subjetiva que fiz com minha Eudade, significada pela linguagem, então já objetiva, mas que não se mantém, pois quem age e faz é o Jiva, um produto, um resultado do Um e não o Um.

Ou preciso mostrar para um outro que fiz esta conexão comigo mesmo, ou preciso buscar no outro esta conexão.

Ora, quando temos uma experiência de si mesmo (de termos sido a Eudade) nós a perdemos no tempo, a ponto de ter que mostrá-la para o outro ou buscá-la no outro, temos os dois momentos que são lados do mesmo Jiva, a alteridade da biunivocidade.

Encerrando por aqui, pois a cabeça do leitor deve estar fervendo, posso então caracterizar o Gozo como a alteridade das posições.


Como Fantasmas, para sermos subjetivamente para nós, nós precisamos ser objetivamente para os outros. E ser subjetivamente para os outros para ser objetivamente para nós.

Está aí a Etimologia do Gozo - separados pela Linguagem. A moeda de troca é o Signo, vestido com uma letra que significou subjetivamente a Eudade, e um Signo nu, sem significação, que a busca na letra do outro.

Assim posso lhes revelar o significado de Signo como Falo, como o Linga no Tantra, o falo evanescente que produz o Gozo é o Signo representado por Freud como o Falo da castração Freudiana e como o Signo da castração em Lacan. O Tantra nos diz existirem três Lingas (falos), um físico, um emocional e um outro cognitivo, um ligado aos genitais, outro ao coração, emocional e um terceiro ligado a cognição. As necessidades da Alma como corpo, como emoção e transcendência.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte V - O Tantra

Antes de ler leia a postagem anterior:



Assim eu creio que consegui conduzir você leitor até um ponto interessante, e que é o objeto da psicanálise e do Tantra – o Gozo do Real. E não me contenho em dizer, o Gozo Real, “a coisa toda boa” como dizia um discípulo meu.

Exatamente isto é a Biunivicidade, o Samádhi Hindu, o gozo sem objeto. O malandro Patãnjali já colocava as duas formas de gozo, um com objeto e outro sem o objeto. Mas o problema não é tão simples como nos insinua Patãnjali. Como gozar sem objeto? Alguns estudiosos do yoga, os teimosos em ver alguma coisa lá, dizem que é uma percepção especial, o tal gozo sem objeto.?????????

O Tantra não luta com o conceito, não rivaliza com a filosofia, pois nele o Gozo do sujeito com seu objeto é um gozo embrulhado com o real, mas não há nada de errado nisto, embrulhado ou não, é Gozo.

Não se preocupe caro leitor, ninguém está gozando errado, nem incompletamente, nem parcialmente, como se houvesse um Gozo Real, e um ilusório. Como se houvesse uma gestalt perfeita para ser encontrada por aí, e você não a encontrou!

Com isto entramos no assunto, na Biunivocidade, o gozo não encerra, mas recomeça, ele reinicia a Alma na cadeia significante da letra. Dá ao Jiva a sensação dele existir de fato como Consciência. E de fato, o gozo dele é o de atingir um metadesejo – o Gozo é a experiência em si.

Com objeto ou sem objeto o gozo(sic) é um desfazimento da letra, da nossa separação pela linguagem. Ilusão é buscar um Mais-gozar, um gozo além de si mesmo, como se o gozo da Alma não fosse espiritual.

Então não é gozo que pode ser colocado em categorias, com ou sem objeto, não. É o desejo, este sim, o desejo que faz o sujeito, é ele que pode ser categorizado. O objeto vem do desejo e não do Gozo.

E isto somente muda quando o Jiva, a Alma, coloca o desejo como uma experiência e não como conhecimento, quando a Alma coloca como uma experiência de si mesmo. Experiência esta que não é um ganho, mas uma expansão em direção a Consciência.

Resumindo o Jiva, o fantasma, a Alma,  é um experienciador da Consciência. Sem ele não há experiência alguma.

Nós como Almas estamos desempatado o jogo; e o EU, a Consciência, empata, ela sempre empata o jogo.

Desta forma é que nós podemos ser um Avatar da Consciência. O Jiva é a consciência e depois voltar a ser a Alma, e sobre esta viagem, é sobre isto que o Tantra nos fala. Eu, você, todos, podem, como Jiva, ser a Consciência no Gozo, mas antes do gozo, e depois dele não. Logo não há um objeto, o sujeito, o Jiva, ele é o Objeto da Consciência, este é o caso!

O Jiva quando sofre um gozo está junto da Consciência, naquele instante e depois volta para a linguagem, volta para seu lugar na cadeia significante.

Logo estar de posse de um corpo físico, de uma psique, para a Consciência, é estar experimentando ser daquele jeito específico. O que quero dizer é que o Gozo é uma ausência de significado para uma experiência, a ausência de linguagem!!

Assim posso começar a lhes dizer que não há transcendência alguma que não seja a da linguagem e que o Jiva é um ser da linguagem e em todos os momentos, e com isto, sou obrigado a lhes levar ao Tantra novamente. Que  momentos são estes?

Antes, quero lhes dizer da grandeza de um homem chamado Freud, ele foi o primeiro, a abordar onde o homem desfaz sua linguagem, ele foi o primeiro a conferir aos sonhos um status de uma outra vida da Alma, do Jiva.

O Jiva vive na vigília, no sono e nos sonhos, e vive vidas distintas!

A vigília, Jagrata, o estado de sonho Svapna, e o estado sem sonhos do sono,  Susupti.

Como a filosofia ocidental pôde ignorar os sonhos e o sono?

Na vigília e nos sonhos nós somos o desejo de sujeito e o sujeito de desejo, respectivamente. Nós invertemos a posição, ciceroneados pelo sono que faz a ponte entre um e o outro estado.

Sonhamos para poder dormir, e dormimos para poder sonhar.

Nos sonhos nós somos os senhores da mente, da situação, o desejo pode se transformar pela imaginação em várias formas, continuamos sendo o sujeito do desejo, o desejo se altera e nós continuamos nele. Na vigília temos o desejo do sujeito, o sujeito preso ao desejo, e aí é o sujeito que muda, para atender o desejo, e mudar, pela linguagem!

No sonho nós somos o mesmo sujeito, na vigília criamos a possibilidade do outro, trasnferimos, mudamos o sujeito e não o desejo!

Na vigília, nós temos o Signo, como a letra, ela manda no sujeito; já nos sonhos temos um sujeito em que o Signo escapa da ditadura da letra, não age mais pela letra, mas pela imagem em ação.

No sonho o sujeito do desejo é capaz de surfar pelo signos, rompendo com a linguagem, com a letra. Ele é o senhor, ele é o sujeito do desejo, ele assume o controle sobre o conceito. Cada signo sonhado revela um outro e um outro... que veste o mesmo desejo, veja que isto é fundamental neste estudo que lhes apresento, o desejo é o mesmo, mas sua roupa, é que é outra. Isto é o fetiche.

Nesta altura já podemos dizer que o Jiva vive três experiências distintas, a vigília, o sonho e o sono.

A vigília é um transe com o mesmo desejo, que faz com que o sujeito seja outro e outro, precisa se negar para pensar, transferir...; o sonho é um transe com o mesmo sujeito, em que o desejo é vestido de formas diferentes!

O sonho é uma experiência de ser a Consciência! É um gozo em que o sujeito testemunha, o único momento em que escapa da letra. Jiva Mukta, é a Alma liberta.

E aí o leitor pergunta: O que isto tem a ver com o Tantra?

A resposta é o fenômeno, ele alterna os dois estados, a vigília e o sonho, este é o significado do poder serpentino, que pode ir de um plano ao outro, da terra ao vazio e do vazio para a terra. Pode colocar o sujeito como produto ou causa. Pode colocar o sujeito junto (Samádhi) com a Consciência ou levá-lo ao extremo, separado pelo alfabeto.

Concluindo, já é tarde, não é o objeto que muda o gozo e sim o Lócus, o lugar, o lugar em que o Jiva está. Na posição de vigília ele não pode mudar o Signo, ele está preso a ditadura do significante, e tudo que ele pode conhecer é um outro lugar no mesmo sentido, sentido este dado pela linguagem. Como faço agora com você que lê.

Pode ser que você se anime por um ponto de vista novo, mas não se engane, qualquer lugar na cadeia significante é um lugar previsível, possível , não escapa do sentido.

E com isto eu creio ter lhe dado uma base para entrar no mundo no Tantra. Da imaginação produzida por um tipo de experiência muito especial, a capacidade de sair da vigília para estar junto da posição de Consciência e depois voltar ao mundo, renovado.




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte IV - O que o desejo quer de mim?

Leia antes a postagem da semana passada:


Mestre Bhava: Separados Pela Linguagem - Parte III - O desejo


O que o desejo quer de mim, quer do fantasma? Quero dizer que a vida não é mítica e nem "espiritual" , ela é fantasmática, a nossa Alma é um fantasma da letra. Ela se fez pela letra e desaparecerá por ela. Todas as nossas escolhas são alienações na cadeia fantasmática, tudo ilusão como diziam os sábios indianos.


O fantasma ou a Alma é uma construção no vazio, um falante que não sabe porque fala e age. Este fantasma, chamado pelos indianos de Jiva, uma alma sedenta de sangue, isto é, sedenta de ser alguma coisa que lhe dê sentido. Sangue é vida e blá blá blá.


Ela não é nada sem o Isso, tudo que ela é , é um Isso, ou um aquilo, ou por causa disso. Vive em uma atitude sacrificial de se sacrificar por causa disso, por causa de um Isso, que ele não sabe o que é.


Resta ao fantasma a confiança no criador, pois ele deve saber a causa disso? O que quer de mim este desejo?


Mas podemos enquadrar este fantasma, podemos sim, podemos desejar não ter nascido, não ter nascido para Isso, me compreende? Podemos por um fim a este encadeamento fantasmático, fazendo um voto de não nascido. Não é um negar-se, mas por fim ao Isso como a massa encadeante do nosso desejo, um fio de significantes prontos para nosso uso. Usar a Matrix da mesma forma que ela nos usa, vendo claramente o que o Isso quer de mim. O sacrifício da submissão.


Não sabemos exatamente o que ele quer, sabemos que ele quer minha aniquilação, lenta, branda, longa e extensiva, até que as minhas forças mentais se esvaiam por completo e eu aceite um Isso, como salvação. 


O voto que fazem os Tantricos da Índia antiga era este voto de não ter nascido, quebrando a ditadura da letra, de um Isso - Sannyas. Este voto é a unica saída lógica da alienação, em um desejo de um Isso que me sujeita a algo, alguém, alguma coisa, tempo ou espaço.


O Jiva, o fantasma, ele se ata no encontro , na busca da experiência de buscar sentido e criar uma aparente coerência entre o que o desejo quer de mim e do outro, dando a vida um ritmo, já lhes falei do ritmo, e de sua trampa homogênica.


Então está descoberto, o desejo que o gozo busca é um desejo compartilhado, um Isso, que me destaque de todos, mas me mantenha no rebanho. Para isto servem os elogios, o outro me mantém na coleira universal, o Isso. Por isto fugimos de um Gozo servidor, ele nos mostra que o Isso, é um fantasma, e o que o seu desejo quer de mim, é impedir minha emancipação!


Se o desejo é justamente o que me boicota como Consciência, me embaralha com a realidade, me coloca em um lugar na cadeia de significantes. Não posso calar a cadeia de significantes, nem posso negá-la, sou impotente, quem fala, age, pensa, é o Fantasma, pela letra.


Sabendo que o que o desejo quer é o meu sacrifício, em troca ele me dá a possibilidade de Gozo, de ser alguma coisa, de ser alguém - para os outros.A moeda de troca é o Isso.


Não posso negar o Isso e nem ser cego e aceitá-lo, mas posso pelo voto de não ter nascido, poder ter as duas coisas.


O Isso e Eu, posso ser biunívoco, viver pelo Sannyas! Sempre ao lado, veja bem a expressão, Samadhi, significa estar ao lado, junto à Consciência.

Ao lado, ali, sendo um fantasma, que pelo Isso, é a Consciência e não é ao mesmo tempo!


Vejam bem leitores que eu não disse "O que o Fantasma quer?", e sim, "O que o desejo quer de mim?"


Veja que não há  um Desejo do Sujeito e sim um Sujeito do Desejo, este, é o Fantasma, o Jiva, é sobre ele que falaremos, sob esta perspectiva!


Final da parte IV.



A inversão entre o Desejo do Sujeito e o Sujeito do Desejo, coloca o Desejo como ontologia do Sujeito, como origem e fim.


Esta operação, a inversão da causa, que passa o Sujeito para a posição de produto do Desejo, de  letra, e de cadeia significante, ou se desejar - o Ser. Este é o Ser. Ele não pré existe, ele é produto da intervenção de um outro, entre a Mãe e o futuro sujeito, ali, quando há o corte, a intervenção, feita pela campainha, no meu exemplo foi a campainha que tocou e fez a Mãe retirar o bico do seio da boca, do seu filho, e isto representa um corte, se assujeitar a um poder maior, o tal Nome-do-Pai.

Ali nasce alguém, um sujeito que vem do desejo de não ter sido interrompido, cortado, ou castrado. O desejo é o Medo, Medo da castração. Mascarada pelo Isso, por um sentido no mundo, a letra, as palavras, “A Campainha tocou”, são o Isso do mundo, o nosso link intersubjetivo com todos e conosco. Esta ultima afirmação é que é Capital, o “conosco” é aí que fraudamos o Real e criamos uma existência subjetiva para nós, um SER. O nosso Fantasma, daqui para frente eu o chamarei pelo nome que os pioneiros desta investigação lhe deram – Jiva.

Não há problemas na relação com o Isso, ele representa para nós o que representa para todos, pense bem. Todos vivemos sob esta mesma lei, a ditadura da letra. Esta estrutura vai bem, na infância, e na adolescência começa a dar sinais de que não dará conta de ser, e depois na fase adulta, em que aceitamos o jogo, temos que fazer o jogo, inclusive para nós mesmos, pois é como pensamos, elaboramos, e temos um sentido na vida.

É esta representação para nós é que é falha, pois submete o Isso a uma categoria, que intersujetiva, que é de todos, perceberam? Tornamos assim o Isso no nosso desejo, algo nosso, como se ele não fosse anterior, como se ele não fosse compartilhado com todos, este é o Eclipse da Consciência e o nascimento do Jiva.

Desta forma, é que o Jiva, é a negação da Consciência, do Todo, pela parte, quando tornamos o Isso de todos em algo nosso, o seu desejo. É, aí que ele vive, é aí que ele se faz pela letra, pela linguagem.

É aí que o que representamos para nós com sendo nosso, exclusivo, pessoal, se faz pela letra, pela mesma letra do outro, exatamente isto é o Isso.

Logo não podemos nos representar, não podemos existir subjetivamente, e exclusivamente, enquanto usarmos do mesmo meio, que os demais usam. Não podemos nos representar realmente.

Então, estamos diante da Biunivocidade, a representação para os outros, e para nós mesmo.

Cada palavra, cada pensamento, tem dois lados, o lado do Jiva que representa para o mundo e o em que ele é representado pela Consciência. 

Ele representa o Desejo, e não ele mesmo, isto quando ele sabe que é representado pela Consciência. Este é o ponto.

Desta forma o Jiva é o Sujeito do Desejo e da Consciência. Biunívoco.

Logo, eu (Jiva) falo pelo Isso, para a sua Consciência e você fala pelo Isso para a minha Consciência, mas as duas, são e serão sempre a mesma Consciência! 




Da mesma forma que uma foto termina na sua borda, a letra termina com o tempo, o tempo cala a letra pela borda do eterno. O espaço da borda limita o campo e o tempo limita a linguagem. Isto significa que o Jiva vive de partes, de um ponctum no tempo, e aí lhes início em outro termo, é o que significa este Ponctum, Bija.

Simbolizado por um ponto, o Bija é o momento em que o Jiva existe no tempo. O Jiva é um ponto na grinalda de letras do alfabeto da existencia, ou seja, o Jiva é Bindu das Mátrikas, esqueci desta palavra mátrika. Ela é a letra viva, dita, pensada e falada. Bija é uma conta do rosário, no Japa-Mala da vida. Cada Bija é um Jiva, ligado a outro pelo mesmo fio, pelo mesmo sentido de ser, pelo Isso. Isto é a cadeia fantasmática, de Jivas.

Não sei se estou indo rápido demais, mas é isto. 


No momento em que cada Jiva existe, ele também é Consciência. Logo, o Bindu representa o Jiva e a Consciência.

Podemos já... ir deduzindo que o Jiva evolui, se transforma pela cadeia fantasmática do Japa Mala da vida, sendo uma pessoa diferente, mudando todos os dias, melhor dizendo; mudando todas as noites, pois é o sono e os sonhos que fazem esta adaptação.

Se o Jiva não mudasse ele seria a Consciência, o EU. Ele se transforma na cadeia de significantes pois está sob influência do fenômeno, que o faz ser pela letra, pelo Isso e não pela Consciência. Exatamente este fenômeno que o faz evoluir, que é chamado de  Kundaliní.

O Jiva tem o poder de tomar as letras e delas criar mundos, enfim, falar e pensar. Mas o fenômeno Kundaliní as desfaz e o aproxima de sua natureza Real - dele ser o mesmo em todos os outros. Por isto Kundaliní desfaz o alfabeto, é a engole letras, ela  ilumina o Jiva, o leva para uma viagem através das suas imagens e símbolos. E pelo sonho e sono o devolve, são. Faz a sua cura diária. Se assim não fosse todos nós enlouqueceríamos em uma semana.

A idéia do Tantra é esta, fazer este poder, fazer este fenômeno agir. E agindo ele repara o Jiva e o coloca junto a Consciência novamente.

Então, quando Kundaliní dorme o Jiva acorda e quando o Jiva acorda Kundaliní dorme.

Portanto, o caro leitor, pode agora, entender o que significa a Biunivocidade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte III - O desejo

Antes de ler leia a postagem da semana anterior:


Mestre Bhava: Separados Pela Linguagem - O Fantasma


Hoje assisto na tv por satélite as tropas de segurança invadindo uma comunidade no Rio de Janeiro. Logo surgem sociólogos e antropólogos a desafiar a nossa lógica para explicar os fatos. Estranhamente nenhum deles defende um ponto de vista mais iluminado: O de que somente conhecemos as versões e não os fatos.

O desejo de jornalistas por um furo de reportagem; o desejo dos militares por um ângulo de enquadre de um “bandido” sob a mira do seu fuzil; o desejo de Paz da mesma população que servia e usufruía dos benefícios do tráfico e agora clama por Paz; o desejo dos políticos em ufanismo ao anunciar vitórias e tomadas de terreno no estado, (como se não fosse antes uma obrigação do estado ter tomado as providencias)...enfim desejos diversos de pessoas que não comandam mais suas mentes, elas é que são comandadas pelo desejo imediato de felicidade, sempre as custas de um outro.

E aí o leitor pergunta o que isto tem a ver com o assunto, Separados pela linguagem? E eu respondo – Tudo. Quase sempre não vemos nem a ponta do Iceberg, que são as relações humanas intermediadas pela letra, sempre acreditamos que é real, que há um sentido. Mas nas grandes comoções, eis que surge a ponta do Iceberg do desejo e somos tomados pelo nosso desejo, o desejo do nosso papel vem à tona, o EU é o desejo. Isto é o trauma, ele toma conta, e tudo fica subordinado aquele fato, trauma é o desejo revelado, nu e cru. Não é o fato o que traumatiza e sim a versão que nosso desejo dá a ele no universo da nossa linguagem. Como nos adaptar ao real do fato ? O que dizer? O que fazer?

Lembram do 11 de Setembro?

Porque nos animamos com a emergência do desejo, quando ele é compartilhado por um fato anormal?

Somos todos filhos dele, do mesmo desejo.

Caiu um avião, começou uma guerra, alguém foi morto, um atentado, choveu demais etc. E nos nós animamos um pouco porque repartimos o mesmo desejo, a mesma Shakti. Podemos dizer: aconteceu isto, aquilo! Podemos falar sobre!

A mídia não noticia que dona Márcia encontrou seu cão desaparecido! Nós queremos ver a desgraça e se for ao vivo, melhor!

Somos perversos!

Os aposentados já caminham mais animados até a esquina, para encontrar os companheiros e discutir o morro do Alemão, os seus passos já são mais seguros, como digo para minha mãe quando ela pisa forte.

Onde foi parar o EU eterno, o mesmo eu que é o dos traficantes, do Papa, dos policiais do Bope, e o da dona Canô?O mesmo eu Meu e Seu?

Foi separado pela letra, acredite nesta verdade, pois não sei se você leitor já entendeu o assunto, ou se iluda!

Você pode falar nisso! Lembra do Isso? Agora é nosso, é nisso, é disso!


Só assim você pode falar de você!


O desejo, ele nos dá a oportunidade de falar, sentir, de ter aspirações, enfim - Tudo, pelo Isso.


Isso , uma intersubjetividade, um nosso, que é a unica possibilidade de falar de si, pelo que nos é comum.


Então encerrando por hoje: tirando eu, e você, sobra o isso, aquilo que é meu e seu mas não é o seu eu e nem o meu eu.


Aí está o EU SOU ISSO.








domingo, 21 de novembro de 2010

Separados Pela Linguagem - Parte II - O Fantasma

Antes de ler leia a postagem da semana anterior:


Mestre Bhava: Separados pela linguagem - Parte I - Introdução

Com aquela introdução da semana passada, expus os vários aspectos da mesma questão, e está claro que vou lhes levar, sem que vocês percebam, ao Tantra. Podem me acusar agora mesmo, antes de concordar comigo. O Mas,  “e olha aí a conjunção adversativa como introdução permanente a uma perspectiva de diferença conceitual”, como advertiu o meu amigo Roberto Melo, o Mas nos salva todo momento, de ser o outro, faz esta magia.

A coisa que some, merece ser burilada a exaustão e eu sou um teimoso compulsivo, que é a mesma coisa dita duas vezes. Infelizmente é longo o processo de aqui dissecar o “Mas” e o “O que”, a começar lá pela maldita campainha, que cortou o um entre dois corpos, o meu , o seu e o de todos - e o da mãe. Ali vimos que surge o desejo, desejo que surge como dor, sintoma como manifestação de uma intervenção, diferente de sinthome como a saudade de ser um novamente. O sintoma, a angústia e a inibição, este trio infernal. O sinthome de ser UM permite que a perda do Um gere um plano estrutural, e amarre para sempre , a mãe, a campainha e o sintoma. Amarre tudo como função de letra, grito, choro, e mais tarde - palavra.

A dor como sintoma inaugura o desejo como letra, o osso ióide que já fala e desliza sobre a garganta. Foi o terror do grito da morte de milhões que nos fez falar.

Milhões gritaram antes de você poder dizer bom dia, hoje!

Agora o leitor já a meio caminho de uma depressão induzida pela verdade dos fatos, pergunta: O Tantra não trata do gozo? Da felicidade? Para quê voltamos a nossa dor original?

E aí é que está a coisa toda, a felicidade é a mesma dor, o gozo é dor. O gozo é um investimento na mesma dor que separou, investimento libidinal lá na origem, tentativa de reparar aquilo lá. O mesmo Ding Dong da campainha.

Gozamos para voltar ao paraíso, ouvir de novo a maldita campainha!

E ela toca! Dez , cem, mil vezes e assim mesmo queremos ouvi-la!

Não planeje seu suicídio, ainda! Não tente outra vez! Pois antes do Nada da morte, a campainha toca, da mesma forma!

Não vá encontrar os peixes banana! Por que o ato repete a mesma campainha.

Isto está provado, pela matemática lacaniana, e no máximo, umas  dez ou vinte pessoas no planeta entenderam, e este que vos fala é um deles, humildemente.

Metade dos meus 10 leitores já clama pelo Soma. Queremos Soma! Queremos a felicidade artificial!

Eu peço que aguardem, pois ainda temos algo, podemos encontrar a felicidade no outro e o outro em nós. Há algo entre nós! E lhe digo mais, não é um novo universo de conceitos e que irá terminar na mesma campainha com um som diferente! Que em vez de Ding Dong faz Bzzzzzzzz.

Freud chamou o algo de inconsciente, e foi aí que tudo se perdeu! Outro som da mesma campainha.

Dalinianamente lhe convido a ser perverso, a ver a dor como gozo ou o gozo como a dor, depende se você é neurótico ou não!

Não sei se piorei ou melhorei para você, mas enfim, o que importa é lhe apresentar algo novo, que você, caro leitor terá que ouvir mil vezes antes de ver nisso alguma importância.

A Alma é um fantasma! Fantasma da dupla desejo-dor! A Alma é um fantasma, uma visão subjetiva de si mesmo! E por trás tem um observador passivo, que é tudo que ocorre e ao mesmo tempo não muda, é imutável. O nome dele, desta testemunha: Consciência.

O que este fantasma quer? O seu Sacrifício.

O que o desejo quer de mim? E ao mesmo tempo não sou nada sem isso. O que o “isso”, o “O que”, quer de mim?

Só sabemos quando desmontamos o fantasma a posteriori e aí sabemos que ele quer minha derrota, a minha perda!

Hoje é domingo, alguns amigos vem aqui na minha casa, portanto tenho que deixar a coisa assim:

Um significante representa um sujeito para outro significante  S¹ >$ >S², esta era a fórmula que definia tudo, segundo esta fórmula estávamos presos a uma cadeia de significantes, e o sujeito ($) tinha que representar seu eu, tipo novela de Goffman, para outro significante. O desejo é o efeito da divisão em partes, Kálas. O sujeito ($) não é senão o efeito da divisão, da linguagem, ele não existe antes. A cadeia de significantes seria o inconsciente.

Isto pressupõe a existência anterior de um sujeito, que nasce em um corpo e o anime pelos significantes da cadeia. É como um programa cósmico. Porém há aí um erro, não existe desejo do sujeito e sim sujeito do desejo, não há sujeito anterior algum. Então o Tantra nos diz que o Universo é uma teia pronta, uma Matriz, Máyá.

E com isto se explica o atamento do fantasma, o destino!

Perceberam que tudo ficou assim, sem solução? E aí é que o Tantra traz uma novidade, que vou introduzir, aqui. Sono, sonhos e Kundaliní, sim há um fenômeno reparador, que remove todos os dias o fantasma da cadeia de significantes.


Dormimos ? Sonhamos?


Então caros leitores há algo aí, algo Místico, sempre me arrependo de usar a palavra místico, é um saco onde cabe de tudo, sempre na falta do conceito, usam o místico como heurística, mas vejam que o místico aí é muito preciso! 





Segunda parte postada, 22 de Novembro




Peço paciência ao dizer que o que existe é um sujeito do desejo e não um desejo do sujeito. O desejo é que se assujeitou como tal, logo, a continuidade de Alma, do nosso fantasma camarada, é ser uma construção no tempo espaço, construção subjetiva de si mesmo. Veja que nosso sujeito, nossa Alma , já agora o nosso fantasma é representado como $, pois ele busca algo, um isso, busca ser algo, para alguém, e este alguém é em primeira instância ele mesmo!


Esta é a passagem do EU para o EU SOU, e daí para o EU SOU ISSO! de Shiva para Shakti e dai para Sadakhya, Assim surge quem se constrói subjetivamente com Ser. Se ficamos no EU e no EU SOU, temos o SER de fato, pois temos a exclusão de qualquer ISSO. O fantasma surge na criação com o ISSO, quando a realidade subjetiva se revela para si mesmo, EU SOU ISSO!


Nasce o fantasma aí, e ele é animado pela vida quando passa a uma quarta etapa, ISSO SOU EU!


EU


EU SOU

EU SOU ISSO(nascimento do fantasma)

ISSO SOU EU(atamento do fantasma)



No ISSO SOU EU surge o Ishwara, o ser que cria mundos, hábil na linguagem, pois se coloca como ser que é causa, mas na verdade,  é o fantasma falando.


Será que fui claro ao dizer que o fenômeno está entre nós, entre o EU SOU e o EU SOU ISSO?


Nesta altura o leitor estará já perdido, andamos muito rápido não foi? Fizemos muitas conexões, até chegar à prova cabal de que há algo entre o EU SOU e o resto. Eu chamei de Fantasma o Ser que vive após o EU SOU, e que vive do ISSO.

ISSO é o Objeto, ou o que ele representa como Desejo.

EU e SOU. O “EU SOU”, formam um lugar que falta o ISSO, formam uma estrutura, que ainda não se afirma, ainda não é um EU SOU EU (ISSO). Vejam que este segundo EU, (EU)  refiro-me assim a uma constituição do Moi (meu EU), porque é uma tentativa de elaboração de uma teoria que de conta do primeiro esboço de Eu que se constitui como ego ideal e o tronco das identificações secundarias, a sede do narcisismo.

É na passagem do EU SOU, para o EU SOU EU, que surge o Eu que é o MEU EU, aqui um ISSO, pois ele não é o EU, e sim o MEU EU, um ISSO, a sede do Fantasma, sua origem, digamos, Cósmica, Universal.

Então caro leitor o seu EU não é o EU em si, sacou? Nunca é. Jamais será! É um ISSO.

Você pode fazer Yoga, praticar budismo, conscienciologismo e o que quiser, mas jamais, nuca realizará seu EU, pois é um outro que se NÃO realiza, o Fantasma, o ISSO.

Há um impedimento, o SEU EU não pode ser o EU.

Então façamos agora um pacto, esqueçamos o EU original, jamais estaremos falando dele, ou sobre ele, ele é inexpugnável, inatingível! Ele é Eterno e imutável.

Assim chegamos a raiz do Tantra:

Shiva é o EU, e Shakti é o SOU. Por algum motivo este EU se manifestou, sua manifestação é a Shakti.

Eis aí a coisa, a ontologia perversa do Universo, mistério. A Shakti, manifesta o EU, mas ao manifestar para ele mesmo, EU SOU EU cria a condição para a criação, veja que não manifesta para ele mesmo, mas para algo, alguém parecido com ele, um espelho.

domingo, 14 de novembro de 2010

Separados pela linguagem - Parte I - Introdução

Separados pelo corpo físico, bem,  isto o sexo, um abraço, um contato, resolve momentaneamente. Mas separados pelos conceitos, razões, ideais, desejos e necessidades, e tudo simbolizado pela linguagem. Aí complica-se não? Pois concordamos e discordamos ao mesmo tempo, de tudo, que o outro nos apresenta, sempre tem o MAS...a ressalva a nos-devolver-para-nós-mesmos pelo outro.

Esta semiologia oriental chamada de Tantra me trouxe uma perspectiva inédita, de que nossa felicidade depende de um outro, a mesma sacada lacaniana. A felicidade em si mesmo, uma espécie de masturbação emocional, é impossível. Quando verificamos a fundo, estava lá escondido um outro, escondido mesmo, pois aquela felicidade que era um regozijo em si mesmo não passava de um mero "eu venci" , "me dei bem"...e até este prazer "espiritual", se mostra tão terreno como um tapa ou um xingamento, ou mesmo uma zoação em cima de alguém.

Então será melhor acreditar neste regozijo como sendo uma felicidade da Alma, e continuar separado pela linguagem, mas feliz, sorrindo como se houvesse encontrado algo em si mesmo?

Devemos aceitar gozar pelo outro? E ter que dizer que não foi?

Voltando a vaca fria, mas ainda não morta, moribunda. Se até a felicidade , aquela espiritual, pura, imaculada, veio de um lugar chamado porão, onde se esconde a nossa perversidade, um lugar ali onde partícula e onda mudam de acordo com a necessidade...ora há alguém atingido por algo vindo do outro, e ora tudo que vem do outro não nos abala. Qual é o critério?, ou melhor, existe algum critério possível de ser feliz sem ter pisado no pescoço de alguém? (veja que até “fazer o bem” é pisar no pescoço de alguém) portanto vá mais fundo.

O que é ser Bom de fato? 

Para não deixar os meus leitores pior do que estou, pois me regozijaria disto, tenham certeza, tanto quanto apontar uma solução, aquelas hipócritas do senso comum; eu posso lhes levar para a bacia das almas em dúvida, com a minoria esclarecida da humanidade, que não sabe o que é ser feliz.

Para não alongar demais, o cenário é para maiores de 50 anos, ou somos perversos ou neuróticos, pervertemos o outro com nossa felicidade ou sofremos ao ser pervertidos com a felicidade do outro. Os Nasistas, veja quem que não disse nazistas e sim Nasistas, de Násio, encontraram um  argumento útil , apenas útil. Ritmo. Que a felicidade é um ritmo.

Mas minha consciência de altas energias, ja diz e ri: Não seria, o ritmo, ser pervertido e neurótico, tão alternadamente com o outro, de forma  a parecer que ninguém ganhou ou perdeu?

Alguns dirão para voltar a uma vida simples, como a de mascar fumo agachado a beira do rio, debochar de si mesmo, e rir de si mesmo, uma forma de perder sem perder, se é que me entendem. O cotidiano que salva milhões de pessoas no mundo.

Outros dirão que devemos nos empenhar em uma causa nobre, social, e até mesmo política , tão intoxicante e perversa que esquecemos de nós.

O bushidô nos diz que temos que ir pelo outro para voltar a nós mesmos, a psicanálise também. Lembram do MAS que disse antes, recebemos o outro e mesmo que de sua boca e mente só saia ouro, nós temos o MAS para nos salvar e voltar a nós mesmos.

Eu havia esquecido da religião, como uma conciliação intermediada por um outro além, fora do nosso alcance. Também vale na batalha pela felicidade, vale tudo.

Entenderam a situação? A felicidade que vem do outro nos devolve a nós mesmos, por um breve instante. Sendo sincero, e sei que vou perder os amigos, amantes e os admiradores, investimos no outro para ter um instante de felicidade com si mesmo, um gozo fugaz, rapidinho, mas glorioso! Onanismo psíquico!

O mais assustador e assombroso, eu deixei para o final, "Somos a mesma consciência, usando o outro para ser feliz". Tem o ditado que diz que no amor e na guerra vale tudo, mas é assim, em tudo.

A sua felicidade vem do outro, e é na negação, no MAS...que ela é encontrada em si mesmo, rapidinho, e tão escondido, que nem percebemos.

Então para não deixar tudo assim, um Mad Max onde a água é a felicidade. É por esta polifonia que podemos perceber algo no horizonte, algo que possa chamar de seu.

O que você pode chamar de seu?

A linguagem quebra o galho, mas não resolve! Enquanto isso, eu lhe dou um pouco da minha, para você chamar de sua.

Até a próxima semana!

Se eu e Você estivermos ainda separados! 



Parte Final, postada 16, Novembro 2010



Então cumpre perguntar: O que nos separa como linguagem? “O que” é o mais importante, não sei se eu já esgotei meus argumentos em favor da linguagem ser aquilo que se representa em nós como Signo.  O signo é o tal “o que”, coisa que Eco chama de estrutura sempre ausente, a coisa está lá, sempre, e sempre não se revela como coisa, se é que me entendem, não deixa rastro, como as pegadas da cadela Baleia, na areia fina do sertão, sopradas pela brisa, imediatamente pós pisada.


Continuando nesta quixotesca aventura atrás da coisa que faz tudo e some na bruma da Alma, tão rápido como a pegada da cadela Baleia, há que ser observador privilegiado de si mesmo, para notar este algo, ou então ter participado de uma audiência universal sobre a coisa, do tal “o-que”.

Se é o fenômeno do espírito quem é que faz isto; se é um raio de luz, trazido pela pomba branca do espírito santo;  se é a dialética da vontade de poder nietzscheneano; se é o observador da dupla fenda quântica; o méson? Tijolinho de Higgs; queria dizer ainda influenciado pelo 15 de novembro, hoje, dia da proclamação da republica. O que me diz que falta algo como um Rei, entre o estado brasileiro e nós, falta algo que nos dê um direito de cidadão e não de cidadãos, divaguei, eu sei, mas voltando para a coisa que está representada pela linguagem. Ela é o que interessa neste desafio.

Eu quero ter um Rei! Para chamar de meu Rei! Não resisti!

Permitam-me dar um passo além, na verdade um passo para dentro, é o desejo, sim é ele o tal “o que”, que nos assujeita e nos faz ser por uma linguagem. Estávamos no UM do paraíso, mamando a teta, sem desejo de ser separado, aí a campainha toca, a mãe retira o bico do seio da nossa boca. Que sensação, esta de ser retirado de si mesmo, por uma campainha, ainda hoje, toda vez que vejo um seio me vem um tremor por dentro, bem, e aí o carteiro, o porteiro, vejam bem que é “O”, e não “A”, bem, o tal "O"...corta, limita, barra minha relação com algo que era eu. Este interventor dos demônios, é o tal Pai-de-todos-nós.

Maldito Nome-do-Pai, que nos jogou no mundo e nos arranca do Um da Mãe.

Barrados pela campainha, tivemos que reclamar como podíamos, chorando, e inaugurando um eu-reclamador, e quem não lê alemão chama de ego. É este eu partido em um eu-reclamador, e o eu-gozador, (aquele de antes da maldita campainha) e daí que surge um terceiro eu para dar conta da confusão. Dizem que Guimarães Rosa aprendeu alemão para entender esta trama da campainha, na letra do sujeito que desvendou o mistério todo, e assim decidiu fumar cachimbo, com o polegar enfiado na algibeira do colete..

Esqueci de nomear o eu-falante, que vai conseguir traduzir tudo, e assim ser alguém. Ele é o eu-falante mesmo. Vamos lá, ele conseguiu reparar a falta? Não. Mas fez o possível, pois começa a nos dar um meio de entender por que diabos a maldita campainha tocou. O que ele fez foi separar as coisas em: “Mãe”, “campainha”, “seio”...muitos nomes para o nosso “o que”, então será que nós somos o produto do Um que se multiplica em vários nomes? E aí lá escola a professora chama seu nome e você responde: Presente!

Que grande passo para dentro nós demos aqui!

Voltando ao gozo interrompido, o tal coito-interrupto-cósmico, e pensando sobre o desejo, me dou conta agora que antes não havia desejo, ele surge, como Kála, uma palavra do tantra que significa Parte, ele surge porque o gozo se fez Parte, desejo, não havia desejo antes! Havia gozo! Um gozo sem outro, sem o gozador, sem o que goza. Sem parte - Akála

Zero de Bion?

Akála é a palavra para o tal gozo sem desejo, contínuo......

Então a linguagem nomeia o nosso desejo, por que nomeia aquilo que repara.

Nesta altura do campeonato se eu fosse mulher seria lesbica, mulher não tem lugar na coisa, o sexo da mulher com o homem não repara nada só aumenta a distância! E para o homem é perfeito! Aproxima!

Está aí um bom argumento para ter a outra! È para ela!

Acho que serei muçulmano!

E justamente agora surge mais um caso, que vai gerar mais inimigos para se juntar a horda dos que eu já tenho.

Então, depois disto tudo, posso decretar: Não existe desejo do sujeito e sim sujeito do desejo!

Caligaris já sabia! O italianinho já tinha dito isto!

Droga! Não fui o primeiro com você! Mas fui o primeiro para você?

Já estou morando na sua mente sem pagar aluguel?

Vamos lá, eu te dei um argumento e tanto para ter outra e ainda desvendei o segredo do universo quântico!

É por isto que falam tão bem do Tantra!