domingo, 14 de novembro de 2010

Separados pela linguagem - Parte I - Introdução

Separados pelo corpo físico, bem,  isto o sexo, um abraço, um contato, resolve momentaneamente. Mas separados pelos conceitos, razões, ideais, desejos e necessidades, e tudo simbolizado pela linguagem. Aí complica-se não? Pois concordamos e discordamos ao mesmo tempo, de tudo, que o outro nos apresenta, sempre tem o MAS...a ressalva a nos-devolver-para-nós-mesmos pelo outro.

Esta semiologia oriental chamada de Tantra me trouxe uma perspectiva inédita, de que nossa felicidade depende de um outro, a mesma sacada lacaniana. A felicidade em si mesmo, uma espécie de masturbação emocional, é impossível. Quando verificamos a fundo, estava lá escondido um outro, escondido mesmo, pois aquela felicidade que era um regozijo em si mesmo não passava de um mero "eu venci" , "me dei bem"...e até este prazer "espiritual", se mostra tão terreno como um tapa ou um xingamento, ou mesmo uma zoação em cima de alguém.

Então será melhor acreditar neste regozijo como sendo uma felicidade da Alma, e continuar separado pela linguagem, mas feliz, sorrindo como se houvesse encontrado algo em si mesmo?

Devemos aceitar gozar pelo outro? E ter que dizer que não foi?

Voltando a vaca fria, mas ainda não morta, moribunda. Se até a felicidade , aquela espiritual, pura, imaculada, veio de um lugar chamado porão, onde se esconde a nossa perversidade, um lugar ali onde partícula e onda mudam de acordo com a necessidade...ora há alguém atingido por algo vindo do outro, e ora tudo que vem do outro não nos abala. Qual é o critério?, ou melhor, existe algum critério possível de ser feliz sem ter pisado no pescoço de alguém? (veja que até “fazer o bem” é pisar no pescoço de alguém) portanto vá mais fundo.

O que é ser Bom de fato? 

Para não deixar os meus leitores pior do que estou, pois me regozijaria disto, tenham certeza, tanto quanto apontar uma solução, aquelas hipócritas do senso comum; eu posso lhes levar para a bacia das almas em dúvida, com a minoria esclarecida da humanidade, que não sabe o que é ser feliz.

Para não alongar demais, o cenário é para maiores de 50 anos, ou somos perversos ou neuróticos, pervertemos o outro com nossa felicidade ou sofremos ao ser pervertidos com a felicidade do outro. Os Nasistas, veja quem que não disse nazistas e sim Nasistas, de Násio, encontraram um  argumento útil , apenas útil. Ritmo. Que a felicidade é um ritmo.

Mas minha consciência de altas energias, ja diz e ri: Não seria, o ritmo, ser pervertido e neurótico, tão alternadamente com o outro, de forma  a parecer que ninguém ganhou ou perdeu?

Alguns dirão para voltar a uma vida simples, como a de mascar fumo agachado a beira do rio, debochar de si mesmo, e rir de si mesmo, uma forma de perder sem perder, se é que me entendem. O cotidiano que salva milhões de pessoas no mundo.

Outros dirão que devemos nos empenhar em uma causa nobre, social, e até mesmo política , tão intoxicante e perversa que esquecemos de nós.

O bushidô nos diz que temos que ir pelo outro para voltar a nós mesmos, a psicanálise também. Lembram do MAS que disse antes, recebemos o outro e mesmo que de sua boca e mente só saia ouro, nós temos o MAS para nos salvar e voltar a nós mesmos.

Eu havia esquecido da religião, como uma conciliação intermediada por um outro além, fora do nosso alcance. Também vale na batalha pela felicidade, vale tudo.

Entenderam a situação? A felicidade que vem do outro nos devolve a nós mesmos, por um breve instante. Sendo sincero, e sei que vou perder os amigos, amantes e os admiradores, investimos no outro para ter um instante de felicidade com si mesmo, um gozo fugaz, rapidinho, mas glorioso! Onanismo psíquico!

O mais assustador e assombroso, eu deixei para o final, "Somos a mesma consciência, usando o outro para ser feliz". Tem o ditado que diz que no amor e na guerra vale tudo, mas é assim, em tudo.

A sua felicidade vem do outro, e é na negação, no MAS...que ela é encontrada em si mesmo, rapidinho, e tão escondido, que nem percebemos.

Então para não deixar tudo assim, um Mad Max onde a água é a felicidade. É por esta polifonia que podemos perceber algo no horizonte, algo que possa chamar de seu.

O que você pode chamar de seu?

A linguagem quebra o galho, mas não resolve! Enquanto isso, eu lhe dou um pouco da minha, para você chamar de sua.

Até a próxima semana!

Se eu e Você estivermos ainda separados! 



Parte Final, postada 16, Novembro 2010



Então cumpre perguntar: O que nos separa como linguagem? “O que” é o mais importante, não sei se eu já esgotei meus argumentos em favor da linguagem ser aquilo que se representa em nós como Signo.  O signo é o tal “o que”, coisa que Eco chama de estrutura sempre ausente, a coisa está lá, sempre, e sempre não se revela como coisa, se é que me entendem, não deixa rastro, como as pegadas da cadela Baleia, na areia fina do sertão, sopradas pela brisa, imediatamente pós pisada.


Continuando nesta quixotesca aventura atrás da coisa que faz tudo e some na bruma da Alma, tão rápido como a pegada da cadela Baleia, há que ser observador privilegiado de si mesmo, para notar este algo, ou então ter participado de uma audiência universal sobre a coisa, do tal “o-que”.

Se é o fenômeno do espírito quem é que faz isto; se é um raio de luz, trazido pela pomba branca do espírito santo;  se é a dialética da vontade de poder nietzscheneano; se é o observador da dupla fenda quântica; o méson? Tijolinho de Higgs; queria dizer ainda influenciado pelo 15 de novembro, hoje, dia da proclamação da republica. O que me diz que falta algo como um Rei, entre o estado brasileiro e nós, falta algo que nos dê um direito de cidadão e não de cidadãos, divaguei, eu sei, mas voltando para a coisa que está representada pela linguagem. Ela é o que interessa neste desafio.

Eu quero ter um Rei! Para chamar de meu Rei! Não resisti!

Permitam-me dar um passo além, na verdade um passo para dentro, é o desejo, sim é ele o tal “o que”, que nos assujeita e nos faz ser por uma linguagem. Estávamos no UM do paraíso, mamando a teta, sem desejo de ser separado, aí a campainha toca, a mãe retira o bico do seio da nossa boca. Que sensação, esta de ser retirado de si mesmo, por uma campainha, ainda hoje, toda vez que vejo um seio me vem um tremor por dentro, bem, e aí o carteiro, o porteiro, vejam bem que é “O”, e não “A”, bem, o tal "O"...corta, limita, barra minha relação com algo que era eu. Este interventor dos demônios, é o tal Pai-de-todos-nós.

Maldito Nome-do-Pai, que nos jogou no mundo e nos arranca do Um da Mãe.

Barrados pela campainha, tivemos que reclamar como podíamos, chorando, e inaugurando um eu-reclamador, e quem não lê alemão chama de ego. É este eu partido em um eu-reclamador, e o eu-gozador, (aquele de antes da maldita campainha) e daí que surge um terceiro eu para dar conta da confusão. Dizem que Guimarães Rosa aprendeu alemão para entender esta trama da campainha, na letra do sujeito que desvendou o mistério todo, e assim decidiu fumar cachimbo, com o polegar enfiado na algibeira do colete..

Esqueci de nomear o eu-falante, que vai conseguir traduzir tudo, e assim ser alguém. Ele é o eu-falante mesmo. Vamos lá, ele conseguiu reparar a falta? Não. Mas fez o possível, pois começa a nos dar um meio de entender por que diabos a maldita campainha tocou. O que ele fez foi separar as coisas em: “Mãe”, “campainha”, “seio”...muitos nomes para o nosso “o que”, então será que nós somos o produto do Um que se multiplica em vários nomes? E aí lá escola a professora chama seu nome e você responde: Presente!

Que grande passo para dentro nós demos aqui!

Voltando ao gozo interrompido, o tal coito-interrupto-cósmico, e pensando sobre o desejo, me dou conta agora que antes não havia desejo, ele surge, como Kála, uma palavra do tantra que significa Parte, ele surge porque o gozo se fez Parte, desejo, não havia desejo antes! Havia gozo! Um gozo sem outro, sem o gozador, sem o que goza. Sem parte - Akála

Zero de Bion?

Akála é a palavra para o tal gozo sem desejo, contínuo......

Então a linguagem nomeia o nosso desejo, por que nomeia aquilo que repara.

Nesta altura do campeonato se eu fosse mulher seria lesbica, mulher não tem lugar na coisa, o sexo da mulher com o homem não repara nada só aumenta a distância! E para o homem é perfeito! Aproxima!

Está aí um bom argumento para ter a outra! È para ela!

Acho que serei muçulmano!

E justamente agora surge mais um caso, que vai gerar mais inimigos para se juntar a horda dos que eu já tenho.

Então, depois disto tudo, posso decretar: Não existe desejo do sujeito e sim sujeito do desejo!

Caligaris já sabia! O italianinho já tinha dito isto!

Droga! Não fui o primeiro com você! Mas fui o primeiro para você?

Já estou morando na sua mente sem pagar aluguel?

Vamos lá, eu te dei um argumento e tanto para ter outra e ainda desvendei o segredo do universo quântico!

É por isto que falam tão bem do Tantra!



7 comentários:

  1. Valeu mestre!

    Alanis manda um beijão!

    Cláudia.

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  2. Um texto muito bem escrito, de grande relevância.

    Abraços
    Rodrigo

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  3. Muito bom, 10 , 20 insights!

    Obrigado por compartilhar sua inteligência.

    Posso usar seu texto, citando?

    Abs

    Rafa

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  4. "O que você pode ser chamado de seu?"

    Muito bom o texto! é uma referencia!

    Parabéns.

    Abraços

    Alexandra W.

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  5. Pude ver que não há lugar para um eu ou algo que seja seu?

    e daí? o que fazer pelo Tantra?

    Mirna

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  6. Mirna, obrigado pela participação no Blog.

    Se mesmo este lugar foi feito pela linguagem, o que podemos fazer é primeiro entender exatamente isto, nós mesmos tomamos a nossa posição subjetiva de eu sou, eu fiz...

    este é o começo de sua clínica do Real (tantra)

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  7. Bhava, amei seu texto, rico, inteligente, realmente esclarecedor.

    Um sabor de quero mais.


    Paulo

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