sexta-feira, 7 de março de 2014

SPANDA Mestre Bhava

Capa do Livro Tantra, Ed Litteris
SPANDA TANTRA

Bases filosóficas

Todo o Tantra baseia-se no princípio  de que Sabda, o som, é Brahman, e é o todo cósmico. E que proferindo um som de uma forma metódica é a maneira de perceber o som eterno como fonte e como um poder. O maior poder humano é o poder de usar o som na comunicação e no pensamento. Sem o som não teríamos nenhuma consciência, mas o som nos parece algo tão nosso que não percebemos que ele é o nosso fundamento, e tudo mais é sua consequência. Se você imagina que exista um espirito animando nosso corpo, que exista ou tenha existido um criador, você não será capaz de penetrar na nossa origem cósmica, somos seres advindos da energia cósmica que é um som. Então você já deve ter conhecido um símbolo e até ter achado bonitinho ele se chama de OM  , é o o símbolo da vibração cósmica, do SPANDA original que pode ser ouvido, ser sentido, mas não pode ser produzido. A partir deste som básico surge uma nota universal que se chama de vibração ou SPANDA, e os gregos e hindus imaginaram que um oceano de éter, seria a primeira produção cósmica, que se chamou AKASHA, neste oceano de éter se formaram as primeiras aglomerações de sons. Todos os organismos e corpos celestes são produtos deste som. Então uma evolução biológica ocorreu para surgir quem poderia falar escrever e pensar, esta evolução se deu na seleção do osso Ioídeo, animais que não podem falar continuarão sendo animais e o grupo humano pode falar e por isto pode pensar e ter consciência.

O Mantra é o fundamento das práticas espirituais do Tantra e é fundamento para todas as escolas do Hinduísmo. É o estudo do som e como cada som é produzido para o efeito de cada forma de som, e assim elevar a nossa consciência através desses sons para encontrar um ritmo com a vibração cósmica sem se projetar em si mesmo.

O som e o seu sentido são sempre inseparáveis, e um é invariavelmente acompanhada pelo outro. Há um verso do hinduísmo que descreve que - "Vaagartha vipa sampruttau, vaagartha pratipattayet, jagataH pitarau Vande Parvati Parameswarau". “Vak (a emissão do som) e Artha (o seu sentido) são inseparáveis como Shiva e Shakti “, o Eu e sua vontade são inseparáveis. A Sadhana ou prática é alinhar o som e o seu significado de forma que aquilo que é dito ou pensado seja transmitido ao outro exatamente como se idealizou. Esta prática se chama de Vak-suddhi, é sobre uma linguagem aperfeiçoada de uma maneira que o som e significado sempre andam juntos. Isso só é possível quando a pronúncia, o pensamento e a fala todos são aperfeiçoados. Se assim não for haverá um descompasso entre o corpo físico e a Psique, cada célula do nosso corpo possui um código  biológico, que se chama de DNA, um computador biológico, em que cada célula nasce com seu dia exato para morrer e assim surgir uma nova célula renovada em sua parte chamada de lixo genético. Tudo é mantido por este código que emite pulsos ou vibrações advindas de suas ligações moleculares. E todas as células são mantidas juntas por terem a mesma carga vibracional, e assim fazerem parte do mesmo organismo. Quando falamos ou pensamos fora do fluxo SPANDA, há a perda da unidade geral e da ligação entre o corpo e a psique, e então o sistema precisa ser renovado, realinhado. Para realizar esta recuperação sonhamos, dormimos, e fazemos uma serie de gestos involuntários, pensamentos etc. buscando a reintegração novamente. Na filosofia e religião ocidental temos sob o nome de “verdade”, esta noção de busca do SPANDA.
Em termos gerais, há três aspectos no Tantra, no estudo de vários aspectos do mantra:  a Sadhana (a práxis ou a prática) Upasana (se colocar junto ao SPANDA) e a filosofia da Sadhana.
O som real ou a vibração e os seus efeitos são agrupados sob o nome de Dhvani ou vibração. Então se você quer praticar o BHAVA TANTRA primeiro deve sentir, experimentar em si mesmo, falar automaticamente, deixar o fluxo de pensamentos ser descontrolado geram a perda imediata do fluxo, e para reverter isto é preciso buscar a conexão com o fluxo SPANDA, primeiro como recuperação e depois na ação. As técnicas visam que a pessoa vivencie a recuperação e sinta como lhe faz bem estar no fluxo e depois aprenda a permanecer no fluxo.

SPANDA-NYASA  Significa a “instalação” da energia em um determinado sentido e para atingir uma determinada meta ou desejo. A vibração desta energia, Spanda, atua como uma abertura criando uma nova perspectiva, ou ponto de vista sobre alguma coisa, o que hoje por falta de nomes se chama de Vibe, a vibração do sentido. Nas sociedades mais primitivas esta fixação se dava por colocar a vibração, usando meios indiretos, como pinturas no corpo, banhos rituais, oferenda de luzes, de flores e alimentos, pois assim se incutia no Tantrico a ideia de que a energia interna poderia ser modificada por meio de atos e ações rituais externos. Quando você imagina algo, está realizando um UPASANA, que significa “sentar perto”, se aproximar da energia que você deseja. Na nossa era, chamada de era de Kali pelos hinduístas, os meios são todos meios “internos”, então quando você lê algo na internet, quando ouve uma musica, vê uma fotografia, conversa com amigos, faz reuniões de trabalho, está realizando algum tipo de pacto verbal, mantrico, com alguma energia. No universo Spanda ou você está nadando sozinho no Mar ou está dentro de um barco, indo em uma determinada direção, se estiver sozinho estará fora do fluxo e sem um suporte energético que possa lhe dar um sentido de ser e de força. Todo o tempo em que estamos acordados ou sonhando estamos navegando no oceano cósmico com algum tipo de energia, se por um segundo você se sentir realmente só, sentirá um vazio terrível, algo realmente inominável, e as neuroses surgem como uma resposta para manter a sua sanidade. O que hoje se chama de TOC, era há 1000 anos atrás uma dádiva que alguns tinham de com gestos e ritos repetir determinados gestos como uma forma de manter seu SPANDA, e estas pessoas eram procuradas pela sua maior capacidade de percepção da realidade. Os gestos sempre foram excelentes formas de fixar um SPANDA, tanto que existem centenas deles catalogados no oriente, pois se descobriu que eles selavam a energia, e pro isto são chamados de MUDRÀ. Todo tipo de organização social, desde a família, até as grandes corporações constituem uma rede de SPANDA e tudo será determinado como são organizados estes fluxos. Na nossa atual sociedade, econômica, a libertação está vinculada ao capital, pois todas as organizações sociais somente são mantidas quando há o capital, quando o suporte econômico existe. Então o espiritual e o econômico são a base de qualquer sociedade, pois para a sociedade tântrica medieval, a cultura é espiritual, a arte é espiritual, as formas, cores, sons,  tudo é espiritual. Cada casa, cada rua, cada fábrica, cada região ou país possui algum tipo de organização energética onde algum tipo de projeto está em andamento, seja pela soma das energias das pessoas de forma inconsciente ou pelo comando de alguém.
A novidade do BHAVA TANTRA,  é trazer para a superfície esta rede de implicações com finalidades diversas, sejam emocionais, mentais, econômicas, sociais, etc. pois o que interessa é a MOTIVAÇÃO PROFUNDA que sentimos quando estamos no fluxo da SPANDA. Então encontrar novamente esta conexão não é a parte mais difícil, e o simples emprego de técnicas pode de fato produzir o fluxo, e cada um poderá depois levar isto para sua vida influenciando sua família, seu trabalho e sua rede de relações, a parte mais difícil é estabelecer uma continuidade no fluxo, pois isto depende de um rearranjo da personalidade, algo muito parecido com o Zen budismo, quando alinhamos nossa energia SPANDA com o nosso cotidiano. Tantra na Índia e Zen no resto do oriente, bem como o Taoísmo são todas abordagens energéticas.

HATHA-NYASA Desde a civilização da Índia antiga se buscou um método mais efetivo buscando esta reconexão estando com o corpo estático. A conhecida postura de uma pessoa sentada meditando vem desta abordagem dos Yogues. É mais radical, pois ostensivamente se busca este fluxo, estando com o corpo parado, e ao contrário do que se imagina, sentar para meditar, quase sempre causa mais transtornos do que se a pessoa não fizesse nada. Então somente devem tentar meditar as pessoas que realmente dominaram o método dinâmico. Quando paramos o corpo nós acionamos nosso sistema de sonhos (SLWs) que começa quando fechamos os olhos, então o que você fará com os olhos fechados? Se a resposta for algo diferente do que você faz quando adormece, você está se prejudicando mais do que obtendo benefícios. Quando paramos o corpo em uma posição estável e fechamos os olhos, logo começamos a sonhar, entramos na zona Alfa das ondas cerebrais. A partir daí temos duas opções, dormir ou continuar sonhando, mas se você escolher continuar sonhando, estará criando problemas que poderão ser bem graves, e se você escolher sonhar para dormir poderá obter os benefícios da meditação HATHA. E aí você fará exatamente o que você faz todos os dias quando adormece. Então porque meditar tipo HATHA? A resposta a esta pergunta é a revelação do processo HATHA. E esta resposta somente virá quando você tiver domínio do método dinâmico, pois se você buscar diretamente pelo HATHA causará mais divisão ainda na sua energia. Todas as experiências com o método HATHA mostraram que 99% das pessoas simplesmente alucinam quando tentam, pois a energia do SAMADHI, que é a mesma coisa que NYASA, ou seja, instalar-se junto de si mesmo, apenas produzirá a projeção de si mesmo. Então a noção de si mesmo precisa de um outro para ser percebida como tal, outro que o processo NYASA não necessita. No método HATHA é preciso que o indivíduo deixe de ser ele mesmo e ao mesmo tempo possa perceber a energia, e isto requer técnica e treinamento por alguém experiente e competente. HATHA vem de força, de um método realizado a força, e requer um longo treinamento, então digamos que você ignore o que eu estou lhe dizendo, e mesmo assim faça a sua meditação sentado, parada. O que acontece é que sua energia dispersa se torna axial, sua mente se enche de insights, que são meras projeções, fantasias, que servem para preparar você para mergulhar no SAMADHI de fato, ou seja, dormir profundamente, e você termina sua meditação completamente fora do fluxo, mas tomado por ideias novas, motivado, mas pelo seu egoísmo de estar fazendo algo para si mesmo. Agora vem a parte em que você quer que o mundo se adapte as sua ideias, e como elas são muito especificas, você se une a grupos que possuem as mesmas ideias, mas conhecendo bem as pessoas você começa a ver discrepâncias pessoais, e novamente incentivado pela sua meditação, continua a sua senda. Depois de anos, descobre que ninguém se encaixa na sua projeção de si mesmo e a não ser que se crie uma doutrina em torno de ideias espirituais comuns, e um dia você estará realmente sozinho lidando com algo que você não controla mais. Começam os vazios, e eles são preenchidos com drogas, com crenças, mas o vazio não termina jamais, ele vai e volta. Se você pudesse voltar atrás e encontrar o ponto onde alucinou, mas isto não é mais possível, e ele foi lá no primeiro momento autógeno, bem lá atrás. É bom dizer que as artes, elas são as únicas medidas que podem de fato representar uma pessoa por um tipo de linguagem, que não sejam representações prontas, mas ainda são produções dinâmicas. O próprio BUDA depois de anos nesta luta, decretou que há somente uma direção, seguir sua respiração, todas as outras são ilusórias a causam mais males que benefícios. O método HATHA e aqui falo de "método" apenas para separar bem os dois NYASAS, ele precisa de uma iniciação chamada de DIKSHA dada por alguém tão experiente que não permita que o meditador alucine e ao mesmo tempo sinta o fluxo de SPANDA.


Desta forma um treinamento, um Coaching  em NYASA–SPANDA, é a base do BHAVA TANTRA que prepara o indivíduo para o NYASA-HATHA e as pessoas que já me conhecem sabem que estes nomes apenas representam ou organizam algo que já existia e é a forma com que transmito o TANTRA.

SPANDA significa "Quase movimento" o instante antes do movimento, da percepção.

"Deve-se permanecer sempre plenamente atento, contemplando o pasto [o mundo] através da sabedoria. Deve-se sobrepor tudo ao Si Mesmo. Então o ser não poderá mais ser perturbado" Spanda Karika 3.12

Neste sistema de Tantra, quando a pessoa está interpondo-se entre o mundo e o que é percebido, ele é um BHAIRAVA, pois possui a consciência recolhida em Si mesmo e desta forma a pessoa convive com o fluxo do SPANDA ao mesmo tempo que vive no mundo. logo o BHAVA TANTRA baseado no SPANDA não leva nenhum yogue e imobilização estática, e que pode ser empregada no método NYASA-HATHA para perceber a vibração, mas não para encontrar a si mesmo. Este si mesmo já está encontrado e este 'processo de reconhecimento', foi chamado de PRATYABHIJNA,  pois a pessoa está aos poucos reconhecendo a si mesmo. Logo o método estático não é nem uma meta, mas mais um meio para atingir e melhor lidar com o método dinâmico.

A contradição, o questionamento, a critica, a curiosidade, o conhecimento de um modo geral são manifestações que produzem uma separação entre o que percebemos e o que é percebido, criando um vinculo interno, com a manifestação da nossa energia SPANDA, Psicologicamente é o outro lado da bipolaridade do neurótico, que analisa a si mesmo, enquanto que o TANTRICO analisa o que percebe e nada pode chegar sem passar pela percepção. Pois cada momento é um fluxo de energia passando pelo Eu, pelo si mesmo. Tudo que é visto, sentido, percebido, produz sensações, idéias, causando uma impressão no Ser. Ele não busca o fim neste fluxo com em um ápice, não, ele busca estar no fluxo, percebendo o mundo com seus olhos, sentindo com sua pele, ouvindo com seus ouvidos.

Mestre Bhava


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